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Por que o real está se desvalorizando?



Se você é o típico brasileiro que prefere comprar produtos importados por serem mais baratos, com certeza deve ter acompanhado de perto a desvalorização cambial ocorrida em nosso país durante o ano. Até mesmo quem não tem esse costume certamente ficou sabendo do acontecimento, seja através de jornais, notícias ou até mesmo por vídeos que falam sobre economia. Talvez tenha até escutado a famosa frase dizendo que a empregada doméstica não poderá mais ir para a Disney.


Se a empregada conseguirá ou não ir para a Disney, nós não sabemos, mas é indiscutível que essa desvalorização impacta nossas vidas de diferentes formas e possui diversas razões, que passam pela crise sanitária e econômica, provocadas pela covid-19, até a política fiscal do país. Tentaremos explicá-las de modo que consiga ficar claro a todos.


Tentando encontrar uma ordem cronológica, chegaremos à conclusão de que o primeiro grande fato que impactou a moeda brasileira, sem dúvida, foi o surgimento da Covid-19. Isso nos conduz a pensar os motivos que levaram a isso, e, afinal, o Brasil foi o único país afetado por essa desvalorização?

Para respondermos a primeira pergunta, devemos entender os movimentos de mercado. Em momentos de crise, como o que estamos vivendo, os indivíduos tendem a preferir alocar seu capital em locais mais seguros. Alguns tipos de reservas monetárias passam a ser mais requisitadas, como, por exemplo, o dólar, tendo em vista que ele é a principal moeda do mundo, logo, também é a mais segura.


Dessa forma, quem possuía capital alocado em países mais arriscados, como é o caso do Brasil, passou a retirar seus investimentos financeiros do país e os colocou em dólar. Com os investimentos estrangeiros saindo do país e indo para o dólar, o real, por questões de demanda e oferta, enfraquece perante a moeda americana, levando, assim, à desvalorização da nossa moeda frente ao dólar.

Esse movimento, evidentemente, não ocorreu apenas no Brasil, levando as moedas de diversos países a se desvalorizarem consideravelmente em relação ao dólar americano, sendo poucas as moedas que se valorizaram. Entretanto, algo importante de ser constatado, é que o real foi a moeda que mais se desvalorizou até o presente momento.




Sabemos que a desvalorização é reflexo do risco contido no país, logo, podemos compreender que o mercado nacional e internacional constata um risco considerável de se investir no Brasil com o cenário atual.

Quais seriam, então, esses riscos que afastam nosso país dos investimentos e influenciam tanto a nossa moeda?


Se você investe em ações, com certeza já olhou os fundamentos de uma empresa e ficou com vontade de investir nela, porém, ao procurar informações sobre a administração, descobriu que os controladores da empresa viviam se estranhando, o que prejudicava bastante o crescimento da companhia. Imagine agora que essa empresa é o Brasil e os controladores são o poder executivo, legislativo e judiciário. Você investiria nessa empresa? Os investidores estrangeiros, aparentemente, não.


A incerteza provocada pelas frequentes discussões entre os três poderes afasta aqueles que já investem no país e também a possibilidade de novos investidores estrangeiros, ocasionando, mais uma vez, no movimento de saída dos investimentos em real para o dólar, sendo esse mais um fator de desvalorização.


Outro ponto que está relacionado à política é a questão fiscal do país. A dívida pública do Brasil, no final de 2019, representava 75,8% do PIB (Produto Interno Bruto), e deve saltar mais de 20% durante esse ano, com perspectiva de ultrapassar 100% do PIB, segundo o FMI.


Provavelmente você não faria negócios com quem tem fama de endividado, e os investidores também pensam assim. A perspectiva negativa quanto ao crescimento da dívida afasta os investidores devido ao risco eminente de se envolver com alguém, ou, no caso, com um país endividado, e que, por mais que seja pequeno, corre o risco de quebrar.


É claro que o aumento da dívida nesse ano tem ligação direta com as medidas que foram necessariamente adotadas para que a crise econômica provocada pela covid-19 não fosse maior do que a que estamos presenciando. No entanto, a falta de movimentação política do governo para contornar essa situação posteriormente, através de reformas que visam diminuir as dívidas públicas, aliada a intenção, vista como populista, de contornar o teto de gastos, causam insegurança e incerteza quanto ao futuro do país, e tanto os investidores externos quanto os internos preferem manter cautela em relação ao Brasil, diminuindo seus investimentos em real.


Parece que muita coisa tem afetado a moeda do país e causado essa desvalorização, mas você acreditaria se alguém te falasse que a questão ambiental também tem causado influência nesse sentido?


O Brasil tem sido acusado de irresponsabilidade ambiental, o que tem dificultado acordos com outros países. Empresas e investidores que prezam pelo meio ambiente têm prometido, e cumprido, retirar seu capital do país caso não ocorra uma mudança de comportamento.


Dito tudo isso, talvez exista alguém que ainda acredite que seja possível contornar essa situação e fazer com que o investidor estrangeiro mantenha seu capital monetário no Brasil. De fato, existe uma forma.


Ao entrar em qualquer rede social, você já deve ter se deparado com ofertas mirabolantes de investimentos e retornos que parecem incríveis aos olhos. O que muitas vezes não te falam é que por trás desses “investimentos”, existe um risco altíssimo de você perder aquilo que tentou multiplicar. Você deve estar pensando: mas o que isso tem a ver com manter o capital estrangeiro no país? Tem tudo a ver!


Todo investimento que contém riscos elevados necessita de um retorno elevado para compensar. Embora o investimento no Brasil, através do Tesouro Selic, por exemplo, não seja tão arriscado quanto cair em uma dessas propagandas enganosas de rede social, ao compararmos com economias de países desenvolvidos, ou no caso mais clássico, da economia americana, o risco se torna maior, principalmente quando temos, nesse momento, todos os fatores de risco citados anteriormente, que afastam o investidor.


Nesse caso, existe a necessidade de possibilitar um retorno acima do que pode ser encontrado nos países mais seguros. Porém, com a taxa de juros a 2% ao ano, a igualdade entre risco e retorno não se satisfaz e o investidor estrangeiro não se sente atraído, retirando ou mantendo seu capital fora do país.

Então só seria necessário um aumento na taxa de juros para tudo se resolver? Não é tão simples assim.


A taxa de juros baixa estimula a exportação e tem influenciado em manter um balanço de pagamentos positivo. Ou seja, o país está exportando mais do que importando e, dessa forma, mantendo uma boa reserva em dólar e evitando que o real se desvalorize ainda mais. Além disso, a taxa de juros baixa estimula o consumo e tem ajudado a manter alguns setores da economia em crescimento, mesmo durante esse período turbulento, evitando uma crise econômica ainda maior.


Embora a covid-19 tenha desencadeado a crise que vivemos hoje, e tenha sido o motivo inicial para a desvalorização que estamos vendo em nossa moeda, é interessante levar em consideração que talvez ela tenha sido somente a faísca necessária para acender algo que já estava preparado para queimar. As crises política, fiscal e ambiental são as grandes causadoras da desvalorização da moeda no país e devem ser tratadas com o máximo de responsabilidade e eficiência, para que os problemas ocasionados por elas sejam rapidamente solucionados.



Luan Victor França

Graduando em ciências econômicas / 2° período

Membro da Ufes finance desde 09/2020

Equipe de mídias

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